quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Seção XIV na Vitrola / A balada de Landini



[Postagem originalmente publicada em 26/05/2011, de autoria de Cristian Marques]


Estava navegando no youtube atrás de umas músicas renascentistas e eis que topo com uma raridade estrondosa: um madrigal de Francesco Landini, do século XIV!!!
Para que se entenda melhor do que se trata, imagina se você encontrasse o tataravô do Gothic Metal. Uma música de vanguarda (ao menos para a época) que evoluiu de uma outra com uma atmosfera mais obscura, com baixo-contínuo (um tataravô do Doom Metal) sendo caracterizada pelo clima melódico e um enfoque sombrio em temas como religião, libertinagem, morte e temas pastoris: era o Madrigal.

Mas contemos essa história melhor. Era o outono da Idade Média, princípios do século XIV, e uma nova forma de fazer música nascia – uma ars nova – em centros culturais como Paris, Avignon, Florença, Verona. Era a cidade o espaço físico que iria emprestar palco para os representantes desta vanguarda musical, diferente dos séculos anteriores em que o campo e os feudos com seus senhores serviam de abrigo para trovadores do sul da França.

Na Itália, diferente da senhoria feudal em decadência, prósperos comerciantes disputavam com a aristocracia laica e a Igreja a proteção de artistas e letrados. Assim era o cenário daquele momento. Foi neste eixo que surgiram grandes peças deste novo estilo; entre o rio Arno e o rio Pó, Florença e de Verona na corte de Della Scalla, abrigo de poetas e letrados, cruzara Dante Alighieri e Francesco Petrarca. Assim como nosso “metaleiro” Francesco Landini.

Há um registro de um cronista de Florença do trecento elogiando Landini com muita efusividade por uma música sua apresentada naquele momento. Tratava-se de uma balada (ballata), um gênero de métrica regular e tributária da dança. Landini, natural de Fiesole, nos arredores de Florença, era filho de um pintor discípulo de Giotto di Bondone e educado nas Artes Liberais. Conviveu com a cegueira que adquiriu na infância e se tornou um grande organista (o que seria o teclado na banda moderna), poeta e compositor. Certa vez foi laureado em um concurso em Veneza, no ano de 1364, recebendo o epíteto de il divino, algo raro, principalmente sabendo que foi dado também pra Dante e Michelangelo Buonarroti. Na banca do concurso estava Petrarca!

Os programas musicais (shows) de Landini, e florentinos contemporâneos de sua geração, usavam muito a ballata para evocarem os estados da alma amorosa. Da coleção musical da corte de Della Scalla de Verona nos chegou pelo Codex Rossi dois madrigais e uma balada... Mas chega de história e palavrório, vejam o que era o “Gothic Metal” da Renascença do trecento:
Clique aqui para ver no youtube

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