quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Mundo Prog / Roger Dean - Parte 2

[Postagem originalmente publicada em 08/06/2011, de autoria de Edu Verme]



Dando continuidade à matéria sobre Roger Dean, iniciada no dia 27 de maio.

Em 1985, Roger Dean começou a trabalhar com algo que é o sonho de muita gente: videogames. Na época, o grande console ainda era o Atari, enquanto o Nintendinho estava sendo lançado na América do Norte trazendo "Super Mario Bros" e a Sega lançava seu Master System no Japão. Entra 1986 e 2007, Dean trabalhou na elaboração de 14 capas de jogos. Aqui temos algumas delas:

Em 1986, Brataccas:



Em 1987, Barbarian:


Ainda em 1987, Terrorpods:


Em 1988, Chrono Quest:


Também Obliterator:


Em 1989, o clássico Shadow Of The Beast:


E ainda Stryx:


Em 1990, Infestation:


Em 1992, Agony:


E por fim, em 2007, criou a capa de Tetris Splash:





Dean segue trabalhando desenvolvendo essas capas, além de ter planos para o lançamento de novos livros com compilações de suas obras e seguir trabalhando com o Yes, inclusive desenvolveu o palco da turnê comemorativa de 35 anos da banda, isso já nos idos 2004.

Abaixo, transcrevo os trechos mais interessantes de uma entrevista cedida por Roger Dean para Mike Tiano, do site "
Notes From The Edge", onde se analisa alguns detalhes das capas pintadas por Dean para a banda Yes.


Mike Tiano: - Seu livro "Dragon's Dream" de 2008 contém algumas pinturas inéditas de seu trabalho clássico com o Yes?

Roger Dean: - Sim, sim, há uma pintura do Relayer lá que ainda não tinha sido vista antes. Eu iria colocar mais coisas do Relayer, mas não coloquei. Há um bocado de coisas do Relayer que nunca foram vistas - a maioria desenhos e outras idéias.

MT: - Além deste livro, o "The Album Cover Album" (livro do qual Dean participou, que reúne as capas de uma variedade de discos que vão dos anos 50 até os anos 70) também foi atualizado. Nesta época de downloads e músicas para se ouvir no computador as obras de arte já não fazem mais parte do pacote total. Eu estava curioso pra saber qual foi a intenção deste livro. Capturar uma arte perdida?

RD: - Sim, eu acho que de certa forma é uma arte perdida. Não realmente uma ARTE perdida, mas uma escala perdida, um impacto perdido. A capa do CD não é a mesma coisa, não é?

MT: - Não, não é, e agora vemos o CD tomando o mesmo caminho - como eu disse, você pode baixar músicas direto para o seu computador. E geralmente, eu acho que provavelmente não há arte associada a elas.

RD: - Bom, o que eu acho que foi a tragédia e a estupidez é que quando a balança foi de 5x5 para 12x12, as gravadoras, ao invés de pensar que tinham de trabalhar duro para obter o valor merecido, fizeram o contrário. Quando a Atlantic lançou Close To The Edge (do Yes), durante dez anos o disco foi vendido sem a arte gráfica. E a mensagem que eles passaram ao público assim é que aquilo era um pedaço de lixo, que não ligam para aquilo, que o desrespeitam, basicamente. Eu acho isso uma tragédia, uma vergonha.

MT: - Sim, você tem razão. Por algum motivo, quando foram lançados pela primeira vez todos os discos do Yes dos ano 70, eles fizeram isto no saldão, então você tinha apenas a pintura externa...

RD: - Sim, o interior impresso em preto e branco, sem as imagens.

MT: - Ou mesmo sem letras. Sem a embalagem original real, que de alguma forma foi retificada posteriormente, foi, provavelmente, para eles, uma jogada esperta para criar mais receita.

RD: - Bem, eu não acho que tenha criado mais receita. Você está falando de frações de centavos para imprimir o interior em cores. Era na verdade apenas uma medíocre maneira brega de pensar, e isso explica por que as pessoas compravam as importações japonesas, pois elas eram muito mais caprichadas. Já disse isso uma dúzia de vezes, os japoneses possuem uma atitude que é muito mais do que honrar a música, honrar o cliente. Eles a tratam como um dom. A música é um presente em todos os sentidos, assim como a arte. É um dom, e deve ser tratada como um dom. Ela deve ser cuidadosamente acondicionada, embalada e apresentada. A forma como estão fazendo isso fora do Japão não é um dom. É uma ferramenta e um utilitário bonito. É como dar a alguém um vale-livro. Não é a mesma coisa do que dar um livro.

MT: - Eu tenho algumas perguntas sobre o Yes. A capa frontal do que é provavelmente a obra-prima do Yes, Close To The Edge, é em retrospecto, provavelmente uma de suas capas mais incomuns, pois não possui nada. Não há objetos, não há números, não existem paisagens. Como você desenvolveu o conceito?

RD: - A idéia inicial era de dois ou três elementos juntos. Primeiro de tudo, lá estava o novo logotipo, e outra coisa que queríamos fazer era desenvolver uma idéia que nós tentamos sem sucesso em Fragile: fazer parecer não como um velho livro, mas com um documento. Era um disco; nós não estávamos tentando fazê-lo parecer com um livro, mas queríamos algo como aqueles relevos em ouro, então a idéia original era fazer algumas inscrições e ter ouro em relevo. Naturalmente, é claro que nunca aconteceu, o que foi uma pena, pois teria sido ótimo, e então, quando você o abria, lá dentro estaria a imagem, e isto também aproximaria as pessoas, pois a pintura realmente faria você olhar para muito mais. É necessária uma análise mais aprofundada do que das outras que eu havia feito até então, que eram muito mais suaves em seu impacto.

MT: - A pintura interna chegou a ser considerada como capa frontal?

RD: - Não no sentido de ser usada como capa, mas ela é uma espécie de símbolo, o ícone que representa a proximidade com a borda ("Close To The Edge").

MT: - Sobre a pintura de Tales From Topographic Oceans, que provavelmente é uma de suas mais icônicas. Uma coisa que notei nas reproduções da capa e que foi perdida da capa original foi uma espécie de esteira onde os peixes estavam. Você podia ver o caminho que eles fizeram, e agora está faltando. Fiquei me perguntando que história está por trás disto.

(Nota: 
esta é a pintura com a "esteira" e esta é a pintura sem a "esteira")

RD: - Bem, eu nunca gostei daquilo (risos), e não era parte da pintura. Foi acrescentado após a pintura. Em muitos dos meus quadros eu tive que fazer uma pequena nota, um mini-ensaio em meu livro, para dizer que ao longo dos anos os títulos das pinturas mudaram. Tem havido uma série de pinturas que eu tenho chamado de algo por um tempo, então penso que o título não se encaixa, mudo, e mudo de novo. E um monte de pinturas mudaram também. Elas saem de uma forma, e eu as mudo, tiro algo, coloco algo, então enquanto elas estão em meu estúdio, seus nomes evoluem, as pinturas evoluem, e isso aconteceu com muitos trabalhos meus, mais da metade, eu acho.

MT: - Então você realmente pegou novamente a pintura e pintou a esteira?

RD: - Não, eu nunca pintei sobre o desenho.

MT: - Ah, então como foi acrescentado?

RD: - Eu pintei em um pedaço de celulose clara, nós fotografamos na posição, e fotografamos sem ele. Preferi sem ele, então quando ela foi usada como um cartaz e tudo, foi sem ele.

MT: - É uma técnica que utiliza com frequência?

RD: - Não, não. Eu e Jon (Anderson, vocalista do Yes) discutimos essa idéia. Jon estava mais convencido de que isso funcionaria do que eu, então tentei, mas não funcionou, então removi.

MT: - Esta é uma visão muito legal sobre a forma como você trabalha. Durante os anos 70 você teve esse grande envolvimento com o Yes, e criou muitos trabalhos com eles até Going For The One, quando ocorreu a ruptura. Existe alguma pintura inédita do Going feita por você?

RD: - Não. Eu saí de Montreux, onde eles estavam gravando, e... eu não sei se eles tinham o título "Going For The One" enquanto eu não estava lá, eles podem ter feito... mas eu acho que o que aconteceu foi que quando eu não estava lá, Jon estava fazendo uma pintura que ele queria que eu incorporasse na capa, e eu achei que não funcionaria (risos). Algumas vezes Jon tinha essas conversas comigo, geralmente e felizmente ele sempre gosta que eu faça a pintura, mas às vezes ele tem algumas idéias. Quando isso acontece, nós podemos falar sobre isso, mas quando ele estava fazendo a pintura, parecia não haver muito espaço para discussão.

MT: - Sabia-se que o relacionamento seria rompido naquele ponto, ou ocorreram outras conversas sobre os motivos pelos quais o seu trabalho não seria usado para o Going For The One?

RD: - Eu já sabia. E às vezes, você sabe... você precisa de uma pausa.

MT: - O que você acha das capas de Going For The One e Tormato?

RD: - Bom, antes de tudo, em geral, eu acho Storm Thorgerson (da Hipgnosis, que desenhou a capa para os dois álbuns) um brilhante designer, ele é um bom amigo também. Se acho que é seu melhor trabalho? Não (risos). E eu acho que a figura em primeiro plano de GFTO era um problema para todos os interessados.

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Todo o conteúdo desta entrevista pertence à Mike Tiano.
Todas as imagens pertencem à Roger Dean.
Copyright © 2008

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