quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Mundo Prog / Storm Thorgerson e a Hipgnosis


[Postagem originalmente publicada em 22/07/2011, de autoria de Edu Verme]

Pense num ilustrador que tenha trabalhado com muitas bandas de rock, criado conceitos que entraram para a história do estilo musical, junto com as próprias músicas. Um ilustrador que consegue associar a imagem que se vê na capa do disco com o seu conteúdo. Alguém com o suficiente de genialidade para deixar sua marca em cada traço, em cada cor. Não, não iremos falar novamente de Roger Dean, sobre o qual já tratamos aqui (http://vomitandolagrimas.blogspot.com/2011/05/mundo-prog.html) e aqui (http://vomitandolagrimas.blogspot.com/2011/06/mundo-prog.html). Estamos falando de outro cara, hoje já senhor, chamado...

Storm Thorgerson
Storm é um designer gráfico nascido em 1944, e já trabalhou com dezenas de bandas, entre elas GenesisDream TheaterLed ZeppelinThe Mars VoltaMegadethMusePink Floyd, entre dezenas de outras. Fundador e peça chave do grupo de design Hipgnosis, Storm trabalha muito com o surrealismo, talvez o fator chave para o profundo relacionamento que suas capas mantêm com a sonoridade de cada banda.

É difícil dizer exatamente qual a capa mais famosa produzida pela Hipgnosis. Muitos apontam para a capa do álbum "The Dark Side Of The Moon", do Pink Floyd, tida como uma das mais geniais da história do prog rock. Mas na verdade as capas são muitas (eles foram responsáveis por quase todas as capas do Pink Floyd), e quase sempre geniais.

Como de praxe, traduzo alguns trechos interessantes de uma entrevista realizada com Storm Thorgerson em 1997 pelo site www.floydianslip.com. Deixo claro que os direitos sobre esta entrevista pertencem única e exclusivamente a eles, servindo a tradução apenas como forma de dispor um pouco de cultura aos frequentadores do blog.

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Floydian Slip (FS): - Como você começou a trabalhar com o Pink Floyd?

Storm Thorgerson (ST): - Nós nos conhecemos em Cambridge, estudávamos no mesmo colégio. Roger Waters estava um ano adiantado em relação a mim, e Syd Barret um ano atrás. E David Gilmour vinha de uma escola vizinha, e de fato havia muita rivalidade entre as escolas. Éramos parte do mesmo grupo de jovens, mas não tínhamos muito em comum. Por isso nos afastamos durante uns três ou quatro anos, e nesse meio tempo eles entraram para a faculdade de Arquitetura e formaram uma banda. Syd se juntou a eles e formou-se então o "The Pink Floyd". Gravaram o primeiro álbum, o "Piper", com o qual não tenho nenhuma ligação. Fui inicialmente chamado para ajudar a "interceder", digamos assim, para tentar lidar com a situação de Syd, quando ele estava fora de órbita e tocando sons completamente diferentes da música, literalmente e metaforicamente. E os outros da banda se encontravam numa situação embaraçosa, não sabendo se conviviam com aquilo ou se desistiam. Pediram-me alguns conselhos sobre isso, mas eu não sabia o que dizer - ou talvez soubesse, mas não seria nada muito inteligente. Já é difícil lidar com nossos próprios problemas, imagina com os problemas dos outros. Mas me voluntariei para fazer a capa do segundo álbum, "A Saucerful of Secrets", quando um amigo em comum que havia sido previamente solicitado rejeitou a proposta.

FS: - Você tinha idéia de que estava entrando no que viria a se tornar uma parceria de 30 anos?

ST: - (Risos) Deus, não! Se eu soubesse!!! Não acho que alguém pense nesse tipo de coisa quando tudo está acontecendo. É o equivalente, profissionalmente, a um casamento.
FS: - Em seu livro "Mind Over Matter: The Images of Pink Floyd" você fala sobre Syd e os primeiros dias do Pink Floyd. Você diz: "Uma das coisas mais extraordinárias sobre Syd é que ele não era nada extraordinário. Pelo menos não para nós naquele momento". O que você quis dizer com isso?

ST: - Bem, você sabe, se você estiver na multidão - correndo com um grupo, certo? - então você está naquele grupo mas não pensa como eles, correto? Eles apenas estão no grupo. Eles são parte do grande grupo. Eles são parte de um grupo de amigos.

FS: - Quando você viu Syd pela última vez?

ST: - Não vejo Syd há muitos anos. Eu acho que desde 1975. Foi quando fez sua infame visita ao Abbey Road enquanto estava sendo gravado os backing vocals de "Shine On You Crazy Diamond". Por acaso eu estava lá. Eu não precisava ir muito ao estúdio, não era necessário. Mas aconteceu de eu estar lá quando o Syd apareceu, e aquele foi um momento de cortar o coração. Muito triste, eu diria.

FS: - Essa foi a última vez que alguém na banda viu ele, certo?

ST: - Não sei ao certo. Acho que provavelmente sim, pois ele não estava muito bem na época, e ele certamente não está bem agora.

FS: - Você sabe onde ele está hoje em dia?

ST: - Sim, ele está recluso, fazem 20 anos. Ele não está bem emocionalmente, nem mesmo fisicamente.

FS: - Este não foi o único livro que você escreveu. Tem também um livro de 1978 chamado "The Work of Hipgnosis"...

ST: - "Walk Away Rene". Eu também meio que escrevi esse. Não sei se escrever é a palavra correta. É também algo como uma conversação. Nós falamos sobre todo o trabalho que fizemos para todos os tipos de bandas, incluindo o Floyd, mas muitos outros.

FS: - Onde você incluiu também algumas fotos do seu primeiro estúdio.

ST: - Oh, aquele monte de merda.

FS: - Considerando as capas clássicas que vocês produziram, ele parecia bastante básico.

ST: - Básico?! Básico?! (risos) Você está sendo gentil. O local caia aos pedaços, era imundo, e ficou assim por anos e anos. Nós particularmente éramos muito organizados, mas ali a única parte da arrumação que nos interessava era a dos trabalhos artísticos. As obras eram muito sujas também, mas as partes finais que apareciam para o público eram as partes da obra em que estávamos realmente interessados.

FS: - Isso certamente não o impedia de criar dezenas de capas.

ST: - Não, éramos apenas interessados em projetar e pensar idéias, fazendo capas, filmes, livros. Não dávamos muita atenção para o local. Era um lugar horrível. Tem pessoas que acreditam que uma mente arrumada é refletida em um escritório arrumado. Você conhece a cabeça de uma dama pela bolsa que ela usa? Pelos seus sapatos?

FS: - Você também fala neste livro sobre a sua técnica. Você fala um monte sobre cortar e colar, branquear, algumas técnicas mecânicas até. Eu imagino que hoje você use computadores.

ST: - Sim. Não usamos computadores - eu não uso muito. Eu os utilizo para retoques. Isso é uma coisa fenomenal que os computadores podem fazer, que é transferir o que basicamente é um item fotográfico para um item digital, sem que perca muito de sua qualidade. É extraordinário. Sempre fico impressionado com isto. E você pode copiá-lo muitas vezes, sem perda de qualidade. Em termos de retoque, pelo menos pra mim, e certamente pra alguns retocadores que conheço, é como uma dádiva de Deus.

FS: - Se eu não soubesse a verdade, diria que muitas de suas capas foram criadas por computador. "A Momentary Lapse of Reason", por exemplo. Acho mais fácil imaginar que foi uma criação digital do que imaginar alguém arrastando 100 camas para uma praia, que foi o que você fez.

ST: - Sim, foi o que nós fizemos. E nós tivemos que arrastá-las todas de volta por causa do maldito tempo inglês. Choveu. E foi uma longa viagem até lá, saindo de Londres levamos umas três ou quatro horas. Esperamos até alguma previsão de tempo bom para ir. E mesmo com a previsão, tudo deu errado. Assim, depois de colocarmos todas as 700 camas - lembrando que eram camas de ferro forjado, não eram camas leves, eram realmente pesadas -, todas individualmente organizadas, cuidadosamente espaçadas, choveu. Pelo amor de Cristo. E quando chovia era uma espécie de garoa cinzenta através da qual não se enxergava nada. Você não podia realmente ver que tinha um monte de camas lá.

FS: - Você ouve o álbum antes de projetar a capa, certo?

ST: - (Risos) Sim, claro que escuto! Ouvimos muito. Também lemos as letras. E também falamos com a banda. Depende da banda, realmente. Obviamente, no caso do Floyd, com o tempo um certo grau de comunicação é estabelecido. No entanto a comunicação pode falhar, caso do "The Division Bell". Ironicamente, pois um dos temas do álbum era a comunicação, ou a falta dela, e caminhamos para participar ativamente da questão no ato de fazer a capa, pois acreditávamos que tínhamos feito um grande trabalho, que foi o que usamos no fim, mas David Gilmour não gostou muito. Então, durante umas três ou quatro semanas ele ficou meio contrariado. E isto depois de muitos anos trabalhando juntos. De qualquer forma nós pegamos um fio condutor, a princípio a música, e normalmente ainda em forma de demos. E lá estão as letras, que são razoavelmente precisas. Mais tarde ocorreriam algumas mudanças, pois o vocalista precisa dar novas palavras de inflexão ou mudança quando ele realmente as canta. E lá estão qualquer coisa que a banda nos diga, ou o título, ou qualquer coisa que eles desejam transmitir. Então, sim, tudo isso é levado em conta. E a música normalmente é posta mais como um plano de fundo na coisa.

FS: - Recentemente você esteve fazendo algumas reedições e outros enfeites. Não acha estranho voltar a um álbum que você já terminou?

ST: - É estranho? (Pausa) Bem, sim e não. Acho que escrevi sobre como, quando os CD's eram adaptados do vinil, havia muitas reembalagens feitas pelas gravadoras, que sem cerimônia simplesmente comprimiam o design do vinil nos CD's - em livrinhos que tendem a fazer uma bagunça. Isso ocorreu no Pink Floyd quando eles estavam em estado de trauma, com Roger e Dave em pé de guerra. Então o que aconteceu foi que de repente, sem que tivéssemos percebido, os CD's apareceram de maneira bastante desleixadas nas lojas, por causa das gravadoras. A embalagem não foi devidamente adaptada. ´

(Para ler a entrevista completa, em inglês, acesse: http://www.floydianslip.com/pink-floyd/interviews/storm-thorgerson.php)

Algumas capas criadas pelo grupo Hipgnosis:


























Veja lista completa aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Hipgnosis

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