quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pérolas perdidas do cancioneiro nacional / Novos Baianos - Barra Lúcifer


[Postagem originalmente publicada em 29/03/2011, de autoria de Edu Verme]

Prezados leitores e leitoras. É com prazer quase doentio que viemos até vocês através deste novo blog para trazer-lhes alegrias e tristezas, sacanagens e afins que habitam esse universo um pouco limitado que somos nós mesmos (mas falo por mim).

Para abrir com tudo, da minha parte, e pensando na comodidade, resolvi criar uma série fixa de posts que dizem respeito à pérolas que desbravo nos antigos vinís das nossas parcas e porcas bandas nacionais, que entre um e outro disco bons, acabam criando um momento de catárse, pérolas escondidas, não tão brutas assim, mas muito longe dos ouvidos de quem realmente deveria a escutar.

Novos Baianos - Barra Lúcifer



Os Novos Baianos não são novidade pra ninguém. Com o estouro de "Acabou Chorare", disco de 1972, se tornaram figurinhas carimbadas na cultura do país (com músicas que viraram hinos nacionais, como "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta"), e foram além. Com os violões certeiros de Moraes Moreira, o baixo de Dadi, a voz de Baby Consuelo e Paulinho Boca, além da guitarra louquíssima de Pepeu Gomes e a batera de seu irmão Jorginho Gomes, uma parede sonora de quase pura brasileiridade se formava, sustentadas pela MPB e pelo samba, presentes de João Gilberto, impregnada pelo jazz americano e o psicodelismo huxleyano. Não era coisa pouca, pra um bando de hippies vadios (segundo a polícia da época).

Por volta de 1974, Moraes Moreira deixava a banda, e com ele boa parte dessa sonoridade mais brasileira, mas que ainda se sustentou através de Pepeu Gomes e suas adaptações de choro, baiões e sambas com a guitarra. A carreira da banda aos poucos foi declinando, as vendas caindo, e em 1976 é lançado o disco "Caia na Estrada e Perigas Ver", muito influenciado pelo "Brasileirinho" de Waldir Azevedo (não é uma nem duas vezes que alguma melodia nos remete ào Brasileirinho, tirando o fato de uma das músicas ser realmente uma adaptação do Brasileirinho) e pelo rock progressivo, muito em voga na época.

E é nesse disco pouco conhecido (mas na minha opinião essencial para um fã da banda) que o pau come adoidado, em duas faixas que chegam a impressionar pela raiva extravasada (contrastanto com a efusiva apologia à alegria e ao 'deixa pra lá' dos primeiros álbuns). São elas: "Na Banguela" (Pepeu Gomes/Galvão) e "Barra Lúcifer" (Pepeu Gomes/Galvão). É impossível não se empolgar com a energia das músicas. São fortes e duras, vão direto ao ponto, nada de rodeios, de melodias intrincadas. Já cheiravam à punk, muito antes do punk dar as caras por aqui. Mas o cheiro é quase só um aroma distante, pois a qualidade técnica da banda, nestas alturas, estava muito além de qualquer outra banda brasileira de sua época.


Barra Lúcifer mostra essa banda coesa e firme, que nada deve em qualidade para os discos anteriores. Mesmo assim o abalo da perda de Moraes Moreira se fez sentir, e a banda acabou em meados de 1978, pondo fim à uma das discografias mais impressionantes em termos de qualidade sonora.

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