quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Seção 80 na Vitrola

[Postagem originalmente publicada em 06/04/2011, de autoria de Edu Verme]


Clássicos dos anos 80

Eu sei... não existe nada mais copiado do que as extensas listinhas de clássicos dos anos 80, mas como costumo escutar centenas de barbaridades a respeito dos anos 80 e sua falta de músicas boas, resolvi iniciar algumas postagens sobre álbuns que marcaram a época, comentando suas faixas e a consequência desses discos na sociedade.


#1 - A-ha - Hunting High and Low (1985)

O ano era 1984 e o solo era norueguês. Morten HarketPal Gamst Waaktaar e Mags Furuholmen tentavam a sorte grande, no embalo do synthpop, que àquela altura dominava o mercado fonográfico mundial, com seus sons mecânicos e sintetizados. Pal e Mags já haviam tentado algum sucesso, com o Bridges, em 1981, chegando a gravar um álbum e a se mudarem para Londres, durante 6 meses de espera e expectativa de algum sucesso. A história nos mostra que a tentativa não deu certo. Sorte nossa. Após se juntarem com Morten, gravaram uma demo com duas músicas: "Living a boy's adventures tale" e "Lesson One". Ambas entraram para o disco de estréia da banda, em 1985, após toparem por acaso com Andy Wickham, caça-talentos da Warner. Era o vôo definitivo dos três, intitulando-se A-ha e trocando o título de "Lesson One" para "Take On Me".


Hunting High And Low - A Recepção



Em julho de 1985 chegava às lojas um disco que seria divisor de águas na história da música pop mundial: Hunting High And Low. Em questão de meses a banda via a vendagem de seu álbum subir vertiginosamente, alcançando fantásticas 10 milhões de cópias vendidas até o final daquele ano, ganhando todas espécies de prêmios e enchendo os bolsos com muita grana (logo de adiantamento receberam 125.000 dólares, gastos, segundo Pal, com "roupas, diversões, essas coisas"). Pra ter uma idéia, em 1985 o A-ha conquistou TODOS os prêmios da Billboard, oito prêmios da MTV, um Grammy, três discos de platina na Inglaterra, um nos EUA e na Alemanha, e ouro nos Países Baixos e no Brasil (até hoje a banda conta com um grande número de admiradores aqui).


Hunting High And Low - O Disco



O disco é primoroso. Soa triste quando é preciso, alegre quando é preciso, e sempre muito bonito. O lado A abre com toda a cara dos anos 80, na pop e simples "Take on Me", uma das músicas mais populares daquele século, certamente. Não é necessário dizer palavras sobre ela, a música fala por  só. Impossível não acompanhar mentalmente aquele tecladinho. Segue frenético com "Train of Thought", dançante e contagiante. O vocal profundo de Morten acompanha perfeitamente as linhas melodiosas da dupla Pal e Mags. Após isso, uma pausa: "Hunting high and low", com uma melodia embasbacante e letra muito bonita ("Não há fim nas distâncias em que irei percorrer./Por você irei procurar por toda parte.") dá uma acalmada, com violões e teclados densos, explodindo no final. "Blue sky" é filha do Kraftwerk, pegada e ótima pra chacoalhar o esqueleto, levanta a bola pra entrada de cabeça (porra, essa foi horrível) de uma mediana "Living a boy adventures tale", com um clima sombrio e com muitos teclados, mas apesar de tudo, ainda soa estranha neste fim de lado A, pairando uma dúvida na cabeça: será que eles irão manter o pique até o final?

O lado B

O teclado de Mags entra, criando o clima perfeito para a entrada triunfal do lado B. Um crescendo explode na dançante "The sun always shine on t.v.", outra música explosiva que virou hit certo e após ela, nova parada. "And you tell me" é simples e muito bonita. E dá fôlego para "Love is reason", ótima para tocar no rádio. Aliás, quase todas eram, o que explica a vendagem e popularidade desse álbum. Segue com "Dream myself alive", também dançante e forte, e termina com "Here i stand and face the rain", com climas densos e simplesmente sensacionais! Ela deixa o disco com um certo tom sombrio no final, negativa e premonitória. Não apareceu muito, dentro do contexto do disco, pois mostrava os caminhos que o A-ha trilharia após este álbum, mais complexo e menos pop. O que não quer dizer que eles não continuaram MUITO pops depois.

Curiosidades sobre a gravação

O álbum foi produzido por Alan Tarney Tony MansfieldAlan Tarney vinha da banda The Tarney-Spencer Band, sua parceria com Trevor Spencer, cuja ruindade pode ser conferida aqui (inclusive nesse vídeo o apresentador comenta sobre Tarney ser produtor do A-ha):


Já Tony Mansfield vinha de uma carreira altamente pop. Produziu a banda New Musik (aquela de "On Islands", já regravada pelo Alphaville e pelo Camouflage), e a seguir produziu muitas outras bandas de sucesso, incluindo The B-52's e Naked Eyes (alguém ai lembra de "Always something there to remind me"? Tinha uma época que eu pensava que essa música era alguma pérola perdida do A-ha interpretando Burt Bacharach). Também fez bicos com gente como Mike OldfieldRobert FrippMartin Newell, entre muitos outros.

Também participou da produção e remixou o álbum, além de ter tocado e cantado em algumas músicas, o produtor - e alcóolatra - John Ratcliff. A masterização ficou à cargo de Bobby Hata, mesmo que masterizou o álbum "Technical Ecstasy" do Black Sabbath e o "Saved", de Bob Dylan. A direção artística ficou por conta de Jeff Ayeroff, veterano fundador da Virgin America e da The Work Group, selos americanos, e vice-presidente da Warner BrosRecords.

O futuro

A banda seguiu subindo vertiginosamente uma escada de sucessos que poderiam render uma coletânea dupla só com hits. "Scoundrel Days", o álbum seguinte, de 1986, aguardado ansiosamente por fãs ardorosos, trazia além da melhora vocal de Morten, músicas como "I've been losing you" e "Cry wolf". Um clássico, que mostrou que o A-ha não era uma banda de um disco só. E não era mesmo. O próximo, "Stay on these roads", de 1988, trazia os hits certeiros "Stay on these roads" e "Touchy!". Após isso, o A-ha lançou mais alguns discos, mas a pólvora havia acabado. A explosão do hard rock e do grunge soterrou de vez a carreira de muitas bandas dos anos 80 da new wave, que seguiram praticamente em sua totalidade cambaleantes e inexpressívas.

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